sábado, 1 de agosto de 2009

Histórias do Sertão



Bloguista No Seu Descanso Merecido


Histórias são contadas desde que o sertão é sertão. Algumas são muito engraçadas, e relevantes, posto que, estão na tradição oral das pessoas que vivem neste nordeste afora. Passam de família para família que se reúnem nas vilas e arruados próximos às suas casas. Posteriormente passam para as cidades e depois para as capitais, onde ganham novos semblates e adquirem status de felicidade e alegria incomuns.

São situações que destacam a sabedoria dos nordestinos pela sua própria natureza e pela inteligência com que essas pessoas resolvem seus problemas de maneira saudável e prática. Sem maiores complexidades elas são resolvidas e contadas nas ditas cidades grandes. essas pessoas são felizes e vivem nessa espécie de arruado com suas caracterísiticas tais e quais, onde eu mesmo tive a alegria de passar bons momentos da minha vida.

Algumas 'estórias' me foram contadas ou eu as invento da melhor maneira possível. São engraçadas e algumas são boas tiradas já levadas ao conhecimento popular, de formas que, a título de compreensão, informo que algumas, modestamente, são da minha autoria.

Como todo bom nordestino, com a intensão de ver um Brasil alegre em perspectiva, não poderia deixar de rlatar a vocês essas alegorias, cantorias e passagens neste blog.

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A história do peido, é muito deselegante e escatológica, portanto, não deixa de causar uma certa estranheza a quem as ouve pela primeira vez.

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Um certo dia, um Senhor que morava numa cidade do interior pernambucano vem até o Recife. Vem em busca de fazer compras e rever a cidade, a "capitá".

Pega o ônibus às três horas da matina, numa viagem que irá durar umas cinco horas. É que o ônibus é do tipo que "pára em todas os lugares", e também é daqueles que tem o seu motor junto ao motorista. Não tem a tampa que encobre o mesmo desde quando saiu saiu da fabrica. Para piorar a situação, o cano de escape está quebrado ou nunca foi consertado. Logo, a fumaça e a zoada do motor se misturam com o calor incessante que já predomina no ônibus, somados ao número de pessoas que desejam também vir até a capital do Estado de Pernambuco para diferentes obrigações.

Alguns passageiros estão sentados, mas mesmo razoavelmente acomodados arrumam-se alguns em meio a um banco de napa todo esburacado. Deveria caber confortavelmente em tempos passados umas duas pessoas confortavelmente. Atualmente chega a caber três pessoas, o carneiro, a galinha, a trouxa de roupas, o caneco de água e a quartinha.

Com o balançar do ônibus, algumas molas do assento se soltam. E é agora que começa a conversa que passa dos limites para algumas senhorinhas não tão "acostumadas" a ouvirem o que se passa nas praças da cidade, mas que naquele ônibus agem com a mais elegante educação das donzelas mais felizes. Portanto, segue-se o seguinte diálogo entre os passageiros:

--- Oxente, olha, esse fio de arame do banco do ônibus rasgou a tua calça, hômi. Acho que tudo está de fora, grita um passageiro já de certa idade.

Mas eis que um outro matuto muito experto tenta tirar proveito da situação e conta uma piada para ajudar a tirar a vergonha do seu colega e demais passageiros de viagem. Contudo, só faz piorar a situação.

Para se livrar das cenas incomodas, resolve dar uma de educado e diz, em bom tom:

--- Acho que vou oferecer este meu lugar aquela Senhora dali do canto qe está em pé desde que assubi. É que tô meio que cansado de tanto ficar sentado balançando de um lado para o outro.

E convida a Senhora a tomar o seu lugar no assento do ônibus já de uma certa idade, agradece comovida, se encaminha até onde o cumpadre tá.

Sem titubear e percebendo que aquela era a melhor saída para se livrar das molas, oferece-se mais ainda:

--- Venha até aqui vossamecê. Quero lhe dar esse meu lugar.

No entanto, a intenção é a de se livrar das molas que já estão bem próximas à sua pele, equilibra-se como pode tenta o impossível mesmo sentado. Mas como todo bom matuto, o cavalheirismo não deixa de ser uma tradição e a Senhora chega até ele e cede, agradecida. Ele, comovido com a sua boa ação, responde ao seu obséquio com um sorriso.

A Senhora meio que ditosa, vestindo uma roupa de chita colorida que nem uma pintura dessas chamadas de modernas agradece e consegue chegar em meio aquele mundaréu de gente dentro do ônibus até o local onde se encontra o "gentil cavalheiro", sem antes soltar um leve e rápido peido. A felicidade se vê logo no seu olhar. A possibilidade de se sentar, entretanto, é tamanha que não percebe o "presentão" escondido em meio ao convite e agradece comovida:

--- Muito obrigada, moço. Sabe, estava mesmo necessitada desse lugarzinho que o Senhor me deu.

Mas ao sentar percebe que o "educado Matuto", nada tem de bom moço. Percebe também que, na sua inteligência de sertaneja que a napa (a coberta do assento) só encobre menos da metade do banco do ônibus. As ditas molas que deveriam servir para aliviar a tensão de uma viagem duradoura aparecem qual um sonoro órgão de igreja de cidade grande.

No entanto, Ela, sem titubear, aceita o obséquio e tenta achar um lugar onde a coberta do banco do ônibus pode oferecer um certo conforto. Entrega-se, ao encontrar um espaço coberto pela napa, melhor, joga-se no banco diante dos solavancos do coletivo e tenta se equilibrar numa estrada de barro cheia de buracos.

Nesse movimento de senta e arrasta seu bumbum consegue achar um bom lugar. Alivia-se e sente prazer: felicidade! Pode-se dizer sem exageros, até um certo conforto, afinal depois de uma viagem de mais de duas horas sob um sol escaldante e em pé, desfruta o prazer de viajar sentada, e esse mesmo conforto chega até os limites do seu órgão sexual. "Oxente, afinal também sou mulher e ninguém vê o cheiro", pensa.

Contudo, todos a sua volta percebem pelo sorriso da matuta. Ela se trai. Se traí porque além de ser uma sertaneja daquelas qe arrancam uma touceira de macaxeira com uma das mãos e com a outra tange a cabra não iria deixar por menos.

O cheiro que vem debaixo da saia dela, mas que nada tem de cheiro, porém, de catinga igual aquelas que mas parecem uma fossa, surge dos panos coloridos das vestes da matuta. Imediatamente, a sua "felicidade" toma conta dos narizes de todos os passageiros. Nessa hora ninguém é de niguém e salve-se quem puder. O cheiro de buceta mal lavada é inconfundível.

Entretanto, sempre tem um engraçadinho que tenta levar vantagem da situação e diz: "a veinha fede e goza, essa é foda, meu" A risadagem toma conta de todos dentro do ônibus e (todos) querem contar uma piada melhor do que a outra. A sertaneja não se deixa levar por menos e deixa tudo no "faz de conta que num é comigo".

Logo, alguém querendo ser mais piadista que os demais ocupantes do "teatro", acha que deve soltar um peido para aumentar o calor da conversa e alivia-se com um daqueles assobiantes. Shhhhhhhssss... Esse tipo de peido também é chamado de "fuguetão, cala-te" -, nas festas juninas.

As piadas e a alegria tomam conta do lugar e o motorista, já não aguentando mais tanta zoeira, diz em alto e bom som para que todos ouçam: "Olha aqui pessoal, como se num bastasse dirigir no meio dessa estrada e com tanto calor, alguém sorta um peido dentro do meu ônibus e uma mulher donzela tenta se esfregar num dos meus bancos. Quando é que vocês vão parar com essa molecagem?".

É nesse momento que a mulher resolve tirar o dito pela destita e diz:

--- Olha aqui seu safado, eu já lhe dei o direito de me cheirar de alto a baixo para voismicê insinuar que a minha piranhenta aqui é quem está causando essa catinga de peido? O Senhor bem sabe que esse mocinho junto a mim foi quem peidou. Pregunte pra ela. Depois, antes de viajar pra capital já tomei dois banhos há um mês atrás.

Todos se calam. Agora a zoada do motor do ônibus é quem predomina até que um outro passageiro, numa peidagem também chamada de, "um depois do outro", eleva o barulho a sua quinta essência. A catinga é daquelas de quem comeu batata-doce adormecida.

--- "Pôrra, meu", diz ele como se ninguém percebesse o tamanho do "estrago" que o seu peidão causou. "Será que ninguém aqui consegue se segurar. Todo mundo só quer ser as pregas do cu da Felisberta, mas peidar que é bom ninguém se acusa".

--- Deixe de ser sonso seu peidão! exclama todos a uma só voz. "Como se nois num visse peido e num subesse de que cu ele saiu, seu peste!"

A algazarra toma conta do ônibus. Nessa altura ninguém é de ninguém e todos procuram uma janela para cheirar ar livre. Juntam-se em grupos e uns cheiram e voltam para os seus lugares para depois retornarem à janela. O ônibus balança cada vez mais. Até que um outro matuto percebe que aquele Senhor que ofereceu o lugar por causa das molas soltas tinha chegado às vias das conclusões.

Não aguentando mais de duas horas de viagem e com as calças já rasgadas, não consegue ser ouvido e solta um "peido daqueles de quem tá com o aro do cu frouxo".

Esse tipo de peido sempre vem seguido de um arrastão cheio de merda. Então, caga-se qual um pombo em praça pública, livre! Caga-se e continua com a maior cara cínica do mundo, achando que ninguém, em meio aquela esculhambação toda, não descobre a sua molecagem.

Finalmente, com os ânimos serenados, e todos os passageiros já devidamente acomodados, alguém olha para o educado Sertanejo e percebe que agora o cheiro num é de peido, mas de merda mesmo, e então alguém grita para todos ouvirem:

--- Puta merda, como se num bastasse, agora é peido misturado com merda. Eita viagi do estopô caiano! Alguém devia avisá pru motorista parar e mandar esse cagão se limpar e adepois vortar.

Mas igual a uma reação intempestiva, ele mesmo, que havia comido muito para aguentar seis horas de viagem sem se alimentar, deixa-se aliviar: solta um "peido egoísta".

Para quem não conhece esse tipo de peido, lá vai a explicação. O "peido egoísta" é aquele que a pessoa solta dentro das cobertas em meio da noite e com numa casa de um quarto único, mas cheio de gente.

Entretanto, para não ser percebido, não quer dividir com ninguém aquele peido que é somente seu e cobre-se da cabeça aos pés. Esse peido egoísta também é muito conhecido também como cheiro de "tampa de furico mal fêxada".

Acontece que o despercebido peidão, logo é identificado pelos demais passageiros e ao ser acusado de tamanha peididão, nega. Nega três, quatro, cinco vezes a autoria do "peido egoísta". Ele acha sempre que não foi ele, acha que o peido é só dele. Cheiro não se divide, admite egoisticamente.

--- Alguém deveria tomar alguma providência e mandar esse peidão, juntamente com o cagão saírem do ônibus e voltarem somente adepois de devidamente aliviados e limpos, diz um garoto até então calado.

Os passageiros concordam com a sua opinião e a aceitação e compreensão são imediatas. Afinal, todos já não aguentam tamanha flatulência coletiva.

Mas antes que o motorista tome alguma decisão. Um outro peido toma conta dos narizes dos ocupantes do ônibus.

Uma Senhorita muito feliz porque vai se encontrar com um "amigo" que havia lhe prometido tirar o seu cabaço tão logo chegasse a cidade grande, percebe que o cheiro da buceta da Senhora é comovedor, inibriante. Melhor ainda, chega a ser sensual. Lembra a ela as diversas siriricas que fez sozinha na perspectiva de se encontrar com o seu galante cavaheiro, e também peida. Solta o "peido Senhorita do cu virgem".

Esse é aquele em que a zoada é pior do que a catinga. Toma conta de todos os lugares pelo som e, adepois, pelo odor. Sai, meio que preso, apertado, engasgado. Solta e volta como que em nuvem de perfume de feira engarrafado com álcool em algarroba engarrafada há seis meses.

Sai apertado e aos poucos: pum...pumm...pummmm... A cada peido soltado, alivia-se com a exclusão, mas, entretanto, invade os narizes dos circunspectos cavalheiros que não esperavam que uma senhorita pudesse peidar tão matreiramente e com uma catinga igual a fumaça, cobre sal, merda, peido comum, pó e bréu...

---Eita! esse veio daqui de perto e num é meu. Acho que essa mocinha foi quem peidou, admita, vá piranhuda" diz outro passageiro com ar de indignação.

Tomada de vergonha e ao mesmo tempo orgulhosa, volta-se para o mal-educado acusador e diz:

---Escuta aqui cabra safado, tu tais é cum raiva de mim porque naquele dia tu me chamô para tirar uma sarro adepois da festa do cuble e eu num fui. Eu tumbéim num fui quem sartô esse mal-cheiroso, apois tá certo?

A confusão se estabelece dentro do ônibus e eis que não mais do que de repente, o motorista pede mais organização aos passageiros.

--- Silêncio cambada de safados. Se querem soltar seus ventos me avisem que na próxima parada que está perto daqui, uns 45 minutos, eu paro e vocês vão até a ribanceira do Seu Severino Adamastor, que ele deixa vocês peidar e cagar à vontade. Agora vamos fazer silêncio que eu tenho hora pra chegar.

Todos obedecem e a viagem continua. As pessoas já estão se acostumando com o balançar do ônibus e alguns dormem a sono solto. Mas eis que um engraçadinho exatamente no meio do ônibus alivia-se com um peido do tipo "não fui eu". Para quem teve a felicidade de nunca ter ouvido nem cheirado involuntariamente esse peido existe uma explicação científica para o mesmo. Pois bem, "esse peido vem das tripas gritantes que passam pelo centro do cu anunciando um cheiro cheio de bosta".

Daí o seu nome, ninguém quer se identicar mesmo.

--- Esse num fui eu, cacete. Se fosse eu eu diria. Sabe-se lá que tipo de gente safada peida dessa maneira. Olha aqui, acho que deve ter sido aquele moço dali do canto. Adepois vosmisses acham que eu iria negar um peido a um amigo?

Todos se voltam para o inocente moço, mas quem diz isso é exatamente o peidão silencioso. O peido ainda toma conta dos quatro cantos da viatura e o "diz que me diz" continua até que chega a tão esperada ribanceira do Senhor Adamastor.

--- Atenção lote de cabada de peidões, eu compreendo que a viagem é demorada e que muitos tiveram que almoçar e comê o café da manhã ao mesmo tempo para aguentar chegar até a capital. Me façam o favor e desçam do meu ônibus e façam as suas necessidades agora. Vocês têm meia hora debaixo de sol a pino e sem sombra.

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Assim termina esse script com mais uma dessas estórias que só acontecem por causa de honestidade e simplicidade do cabloco. Essas mesmas estórias se deixam levar de geração em geração como se fizessem parte das nossas vidas, pessoas educadas e civilizadas, não menos do que esses cidadãos e cidadãs que vivem no ideário do povo nordestino com suas lâmpadas a querosene e uma rede no terraço batido a chão de barro.

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